Não me lembro do teu rosto envelhecido pelos desgostos sempre lembrados. Lembro-me do teu olhar sempre perdido na mesa vazia na mesa sem nada de nada. Lembro-me do teu olhar quando fitava o meu e do sol que aquecia a sala fria da casa enegrecida como se de uma salamandra se trata-se.
Partis-te para parte incerta, que desconheço,e nunca mais pus o olhar no teu corpo frágil,inseguro e velho.
Lembro-me de participar no calcar das uvas cortadas e maduras, retiradas das velhas videiras que adormeciam no resto das figueiras que se perdiam, eternamente,pelo ribeiro zangado que nunca olhava para a sua cidade.
Uma dúzia de casebres de granito extraido do ventre do solo xistoso.
Lembro-me dos pés sujos e vermelhos, cor do sangue, que se perdiam nas serras repletas de espinhos
Duros e frágeis
Que defendiam o seu território a todo o custo
E que me lembravam
Antes morrer que ceder.
Lembro-me de me perder nos braços dos castanheiros à procura de castanhas cinzentas e nunca as encontrar.
De zangado erguer os braços para o céu e perguntar:
- Meu Deus porque não existe castanhas cinzentas nestes castanheiros tão garbosos e musculados?
Lembro-me de nunca obter qualquer resposta por menos digna que fosse.
Mas não me lembro do teu rosto envelhecido.
E a verdade, seja dita, lembro-me do teu olhar que de pobre nada tinha. Ele enchia qualquer mesa que não tinha nada de nada.